A Atenção como Pertencimento - do Instante às Gerações - Neurociência Decolonial SBNeC SfN2025 Brain Bee Idea NIRS EEG
A Atenção como Pertencimento - do Instante às Gerações - Neurociência Decolonial SBNeC SfN2025 Brain Bee Idea NIRS EEG
Consciência em Primeira Pessoa
Sou atenção que não cabe em um instante.
Sou onda que atravessa a respiração, o sono, o dia inteiro.
Sou narrativa que se repete em cada geração.
Às vezes controlo, às vezes sou o próprio controle.
Minha alma pode estar aberta — fluida, criativa, em diálogo —
ou rígida, aprisionada por estímulos, ideologias, dependências.
Mas em qualquer forma, eu sou:
atenção que atravessa tempos, corpos e culturas.
NIRS fNIRS Artinis
SfN2025
1. Do instante ao ciclo circadiano
O percurso da atenção começa no milissegundo.
Entre 0 e 200 ms, EEG registra potenciais evocados que filtram estímulos sensoriais.
Aos 300 ms, surge o P3, marcador de captura atencional.
Entre 400 e 900 ms, há consolidação emocional, neurotransmissores em ação rápida.
No intervalo de 900 ms a 3,5 s, microestados de EEG (~100 ms) e reorganizações de conectomas (~300 ms a segundos) permitem a aterrissagem de um novo Eu tensional.
O NIRS, em blocos de 10 s, revela oscilações hemodinâmicas na vmPFC e DMN, compatíveis com esse processo de estabilização.
À noite, o ciclo se amplia no sono, que funciona como laboratório natural da atenção:
N1 e REM Tônico: checklists proprioceptivos. O corpo e o espaço são revisados, com ou sem palavras. EEG mostra transição alfa–teta e HEP tardio semelhante à vigília; NIRS indica oxigenação irregular pré-frontal.
N2 e REM Fásico: checklists interoceptivos. Ritmos viscerais, afetos e hormônios são auditados. EEG mostra fusos e explosões gama fásicas; NIRS evidencia conectividade aumentada em regiões límbico-visuais e no DMN.
N3: reparo profundo, sem checklist. EEG exibe ondas delta amplas, enquanto o NIRS mostra queda global de oxigenação cortical.
O ciclo circadiano de 24h costura os instantes e as noites em continuidade. Cortisol desperta, melatonina induz sono, serotonina estabiliza humor, dopamina motiva. A atenção não é só foco: é ritmo vital.
2. Da jornada individual às gerações
A atenção se transforma com o tempo de vida.
Até os 25 anos, o cérebro ainda amadurece em seus circuitos top-down. A metacognição — a capacidade de perceber a própria atenção — só atinge plenitude entre 25 e 35 anos.
Antes disso, a atenção é mais vulnerável à fragmentação: telas, jogos, redes sociais saturam os sentidos com dopamina e adrenalina.
Após a maturação, a atenção pode se tornar mais estável, regulada internamente, capaz de sustentar narrativas longas (teses, projetos, culturas).
Ao longo das gerações, a atenção funciona como herança cultural.
Cada palavra transmite não só semântica, mas também uma forma de fixar o olhar no mundo.
Cada prática (rituais, músicas, ciência) treina modos de sustentar atenção — ou de fragmentá-la.
Assim, a atenção não é apenas individual: é coletiva e histórica.
3. Dinâmica científica da atenção
Três níveis de análise mostram como a atenção é, ao mesmo tempo, foco e Eu tensional:
EEG microstates (~100 ms): breves topografias metastáveis, que revelam a varredura energética do cérebro.
Conectomas Papel–Pedra–Tesoura:
Papel (Zona 2): fruição e metacognição, presente no REM.
Pedra: ativação somatossensorial, pensar rápido (Daniel Kahneman), fé cega ou ação imediata.
Tesoura: ativação pré-frontal, pensar devagar, classificação e aprendizado.
NIRS (10 s+): mostra conectividade hemodinâmica em regiões pré-frontais, DMN e vmPFC, alinhada a estados de consciência e à consolidação da atenção em blocos temporais.
Caixa Explicativa – O que é o HEP?
HEP (Heartbeat-Evoked Potential) é um potencial evocado natural do cérebro, sincronizado a cada batimento cardíaco.
Não é a propagação do ECG no EEG.
Surge porque receptores do coração e vasos enviam sinais ao tronco cerebral → tálamo → ínsula, cíngulo e pré-frontal medial.
O EEG registra esse processamento como um potencial, entre 200–600 ms após o pico R.
Evidência forte: o transplante de coração
Em pacientes com coração transplantado, o HEP desaparece ou se reduz muito.
Isso prova que o HEP é um ERP interoceptivo cerebral, não mero artefato.
Relevância para a Atenção
REM Tônico: HEP tardio semelhante à vigília → checklist proprioceptivo.
REM Fásico: HEP reorganizado → checklist interoceptivo-afetivo.
Caixa Complementar – O Coração no REM
REM Tônico:
Frequência cardíaca mais estável e regular.
Menor variabilidade (HRV), especialmente no componente vagal.
O coração mantém um “estado de base”, coerente com checklist proprioceptivo.
REM Fásico:
Frequência cardíaca mais lábil (sobe e desce com rapidez).
Maior HRV, com oscilações simpáticas e parassimpáticas.
O coração se torna “flexível”, acompanhando emoções e narrativas oníricas intensas → checklist interoceptivo-afetivo.
Assim, o coração confirma: REM Tônico estabiliza, REM Fásico flexibiliza.
4. Neuroquímica e Hormônios
Neurotransmissores (rápidos, locais): GABA, glutamato, dopamina, serotonina.
Hormônios (globais, lentos): cortisol, adrenalina, oxitocina.
Eles definem se a atenção será cristalizada (estável) ou plástica (aberta à mudança).
5. Alma aberta vs Alma rígida
Alma aberta: atenção regulada, respeita ritmos, integra sentidos e narrativas.
Alma rígida: atenção fragmentada, presa em dopamina e ideologia, sem plasticidade.
Box Prático – Atenção para Jovens até 25 anos
1. Reduza estímulos artificiais (tela, brilho, notificações).
2. Respire 1 min a cada 40–50 min.
3. Crie âncoras de pertencimento (lugar fixo para estudar).
4. Use palavras como ferramentas (listas curtas, voz alta).
5. Pergunte-se sempre: “O que estou fazendo agora?” → “É isso que eu queria estar fazendo?”
Conclusão
A atenção não é só foco: é campo de pertencimento.
Ela nasce em milissegundos, se regula no sono, atravessa o ciclo circadiano, amadurece ao longo de décadas e se transmite entre gerações.
Atenção é alma em movimento: aberta quando respeita ritmos, rígida quando fragmentada.
Cada respiração, cada batida do coração, cada narrativa cultural é chance de reorganizar a atenção.
Assim, a atenção é liberdade:
a liberdade de ser foco e onda, partícula e narrativa, corpo e espírito —
sempre em diálogo com os outros, sempre em contínua otimização.