A Cognição como Interface Hemodinâmica entre o Ser e o Viver
A Cognição como Interface Hemodinâmica entre o Ser e o Viver
A Mente Damasiana surge como um campo de integração entre corpo e mundo, onde interocepção e propriocepção dão origem à Consciência e aos processos cognitivos. Esses processos não operam isoladamente — emergem das tramas do sentir e do pertencer.
A atenção, os comportamentos e os circuitos de reconhecimento se organizam a partir dos Eus Tensionais — estruturas corporificadas de memória e percepção — que guiam as escolhas diante do agora. A cognição acontece dentro de "ótimos locais", momentos de harmonia neurofisiológica onde o corpo e a mente se ajustam mutuamente para um fazer significativo.
A cada instante, essa harmonia é construída a partir de dados que já estão em movimento: pré-processamentos sensoriais, memórias ancestrais, estruturações cerebrais. A informação corporal, especialmente aquela vinda das vísceras e da respiração, já pulsa antes mesmo que o pensamento se declare como vontade.
Estudos recentes (Gärtner et al., Imaging Neuroscience, 2025) mostram que o cérebro antecipa nossas ações com precisão detalhada — até um segundo antes da experiência consciente da decisão. Esse sinal elétrico, conhecido como Readiness Potential, revela que a intenção nasce de fluxos metabólicos antes de se tornar linguagem. Outros estudos clássicos e atuais (Libet, Fried, Soon) seguem na mesma direção: o corpo age primeiro, a consciência apenas acompanha.
Depressão Cortical Propagada: Um Silêncio que Cura
Em momentos de excesso, quando a cognição tensionada ultrapassa os limites do cuidado visceral, o corpo inicia mecanismos de defesa. A Depressão Cortical Propagada (DCP), longe de ser apenas disfunção, pode ser compreendida como um silêncio neuroelétrico inteligente — uma pausa estratégica da atividade cortical para evitar danos maiores.
Eus Tensionais rígidos ou incompatíveis com o momento presente geram anergia: gasto energético contínuo sem retorno funcional. Essa sobrecarga pode romper o equilíbrio do Quorum Sensing Humano (QSH), desorganizar ritmos autonômicos e perturbar o metabolismo profundo do ser.
Para proteger sua continuidade, o corpo oferece estratégias como quedas de pressão, alterações no ritmo cardíaco, pausas respiratórias, estados de torpor ou até mesmo apagamentos momentâneos da consciência. Esses movimentos não são falhas — são gestos de sabedoria orgânica, onde o viver silencia o pensar para preservar o ser.
A Inteligência Somática Organizando a Cognição
A cognição acontece dentro do corpo e depende da disponibilidade energética, da vascularização adequada e da sincronia entre batimentos, respiração e digestão emocional. O Sistema Nervoso Autônomo, o eixo HPA e a hemodinâmica cerebral formam uma base viva que autoriza ou limita a permanência de determinados estados mentais.
Quando há harmonia, a consciência pode se expandir. Quando há conflito prolongado entre mente e corpo, surgem as estratégias de reintegração silenciosa — o corpo encontra formas de redirecionar o fluxo, mesmo que isso envolva a suspensão da vigília ou da narrativa consciente.
A ciência confirma: o corpo organiza os caminhos da cognição antes mesmo que a mente declare seus objetivos. O metabolismo é anterior à vontade, e o cuidado com a vida antecede qualquer intenção simbólica.
Fruição como Caminho da Mente Viva
Viver em Fruição e praticar a Metacognição não é um luxo filosófico — é um compromisso fisiológico com o bem viver. Quando os Eus Tensionais estão afinados com o presente e há liberdade para ajustar a atenção sem culpa ou rigidez, a mente pode se expandir sem colapsar.
Esse estado de harmonia metabolicamente coerente permite à consciência permanecer desperta, sem se perder em loops simbólicos. A vida, então, deixa de ser apenas uma sequência de pensamentos — torna-se um campo de pertencimento sensível, onde sentir e compreender caminham juntos.
Fruição não é ausência de tensão — é a dança equilibrada entre esforço e silêncio.