Jackson Cionek
45 Views

Exercício intenso e o despertar da Zona 2 O que a oxigenação pré-frontal nos conta sobre esforço, foco e hipofrontalidade

Exercício intenso e o despertar da Zona 2

O que a oxigenação pré-frontal nos conta sobre esforço, foco e hipofrontalidade

(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)

Quando eu corro até faltar o ar, tenho a sensação de que o mundo afunila: a conversa some, o raciocínio fica mais curto, o corpo assume o comando. Em outro dia, num ritmo moderado, sinto o oposto: o pensamento clareia, ideias surgem, problemas se organizam.

A pergunta que eu levo para a Consciência em Primeira Pessoa é direta:

Quando o meu corpo está no limite, minha capacidade de pensar diminui porque falta oxigênio na pré-frontal ou porque o meu cérebro está reorganizando prioridades?

A revisão sistemática de Myungjin Jung, “Does prefrontal cortex oxygenation mediate executive function during high-intensity exercise? A systematic review of fNIRS studies”, em Behavioural Brain Research (2025), olha exatamente para esse ponto usando fNIRS sobre o córtex pré-frontal. 


O que os estudos fizeram, em linguagem Brain Bee

A revisão reúne cinco estudos que aplicaram fNIRS para medir a oxigenação da pré-frontal (PFC) enquanto participantes faziam exercício de alta intensidade e, ao mesmo tempo, realizavam tarefas de função executiva (EF) — Stroop, tarefas de dupla tarefa, tomada de decisão, etc. 

Em geral, o desenho é assim:

  1. Eu entro no ciclo ergômetro ou na esteira.

  2. Sou levado a uma zona de alta intensidade (perto do limiar anaeróbio ou acima).

  3. Enquanto minhas pernas queimam, alguém pede:

    • “Nomeie a cor da palavra e ignore o que está escrito”;

    • “Atualize mentalmente uma sequência de números”;

    • “Faça escolhas rápidas sob regra”.

No meu couro cabeludo, sobre Fp1, Fp2, AF3, AF4 e vizinhança, o fNIRS acompanha variações de HbO e HbR. A análise, nos diferentes artigos, usa:

  • Pré-processamento com remoção de artefatos de movimento e pulsação:

    • filtros passa-baixa,

    • regressão de canais de referência,

    • em vários casos PCA para isolar componentes de ruído extracerebral;

  • Modelagem da resposta hemodinâmica com:

    • médias por bloco,

    • GLM com funções de resposta hemodinâmica (HRF) concoluídas com o desenho experimental;

  • Alguns estudos complementam com análise de conectividade funcional, correlacionando séries temporais entre canais.

Na nossa linguagem, dá para dizer assim: eles estão perguntando se a curva de HbO/HbR na PFC “manda” na curva de desempenho executivo.

O que a revisão encontra?

  • Em alguns estudos, a PFC perde oxigenação (queda de HbO, aumento de HbR) na alta intensidade, junto com piora na função executiva — isso lembra a hipótese da hipofrontalidade transitória.

  • Em outros, a PFC se mantém estável ou até aumenta HbO, e a função executiva não cai, ou cai pouco.

Conclusão da própria Jung: a oxigenação pré-frontal é crítica, mas não é um “botão liga/desliga” direto da função executiva; a relação é contexto-dependente, mediada por protocolos, diferenças individuais, confusores extracerebrais, desenho de tarefa.


Lendo isso com Zona 1, Zona 2 e Taá

Dentro dos nossos conceitos, eu gosto de organizar assim:

  • Zona 1

    • Exercício leve a moderado, respiração sob controle, conversa ainda possível.

    • A PFC ganha oxigênio suficiente para sustentar Fruição + Metacognição: eu corro e penso, reorganizo a vida, tenho insights.

    • Vários estudos fora dessa revisão mostram aumento de HbO na PFC com exercício moderado associado a melhora executiva.

  • Zona 2 (otimizada)

    • Intensidade alta, mas ainda autogerida, com sensação de desafio prazeroso.

    • Aqui, a PFC pode oscilar: em alguns momentos, concentra recursos para focar na tarefa motora e deixar o pensamento “mais fino”; em outros, entra em leve hipofrontalidade transitória, abrindo espaço para estados de fluxo.

    • É nessa Zona 2 que eu enxergo o potencial de treino metabólico da consciência: experimentar o limite sem quebrar o diálogo entre corpo e mente.

  • Zona 3 (hipofrontalidade crítica)

    • Quando o esforço físico vira sofrimento contínuo, sem senso de escolha, a hipofrontalidade deixa de ser recurso e se torna captura:

      • a PFC perde sustentação,

      • o Taá se estreita,

      • o corpo é usado como máquina, sem espaço para crítica e reorganização.

A revisão de Jung nos força a abandonar uma visão simplista do tipo “oxigenação sobe = pensamento melhora, oxigenação cai = pensamento piora”. Em vez disso, ela aponta para um espaço paramétrico: a PFC está negociando recursos entre sobrevivência física, controle motor fino e função executiva. 

Para nós, isso dialoga diretamente com a ideia de Metabolismo Existencial: a forma como distribuo oxigênio, esforço e atenção em mim mesmo é parte de como distribuo justiça, tempo e dinheiro no corpo social.


Pequenos ajustes de normas e políticas a partir desse conhecimento

Se eu aceito que a oxigenação pré-frontal durante exercício intenso participa, mas não determina sozinha a função executiva, posso propor algumas coisas concretas para escolas, programas de esporte e políticas públicas na América Latina:

  1. Educação física como treino de Zona 2, não de exaustão cega

    • Evitar protocolos escolares baseados apenas em sofrimento físico,

    • Criar sessões que mesclem blocos de esforço intenso com janelas de recuperação cognitiva, em que alunos reflitam, expressem como se sentiram, conectem isso com estudo e vida.

  2. Uso de fNIRS e EEG em programas pilotos

    • Em vez de repetir modelos de treinamento importados, municípios podem apoiar pequenos estudos com fNIRS em parcerias com universidades locais, para mapear como diferentes populações (idades, contextos socioeconômicos) respondem a protocolos de exercício.

    • Técnicas como ICA, PCA, CSD (no EEG) e análise de frequências (FFT) podem revelar como o cérebro redistribui energia nas bandas teta, alfa, beta durante esforço.

  3. Política de saúde que reconhece o “cansaço frontal”

    • Incorporar a discussão de fadiga mental + fadiga física em diretrizes de trabalho esportivo, militar, de transporte, etc.

    • Limitar jornadas e protocolos que sistematicamente empurrem trabalhadores para uma Zona 3 de hipofrontalidade crônica — onde o corpo aguenta, mas a capacidade crítica se corrói.


Palavras-chave e vocabulário Brain Bee

Para quem quer ir atrás do artigo e aprofundar:

  • Palavras-chave de busca para o artigo:
    Jung M., “Does prefrontal cortex oxygenation mediate executive function during high-intensity exercise? A systematic review of fNIRS studies”, Behavioural Brain Research, 2025, prefrontal cortex, oxygenation, executive function, high-intensity exercise, dual task, transient hypofrontality, fNIRS.

  • Técnicas associadas:

    • fNIRS (hemodinâmica pré-frontal)

    • Análise em blocos e GLM da resposta hemodinâmica

    • PCA / ICA para artefatos

    • Integração possível com EEG (FFT, CSD, LORETA) para mapear a passagem de Zona 1 → Zona 2 → Zona 3 em termos espectrais.







#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States