Jackson Cionek
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Neurociência Decolonial – Neurotecnologias, Emoções, Ética do Pertencimento e a Metacognição dos Affordances - SfN 2025 Brain Bee Ideas

Neurociência Decolonial – Neurotecnologias, Emoções, Ética do Pertencimento e a Metacognição dos Affordances - SfN 2025 Brain Bee Ideas

Consciência em Primeira Pessoa

Sou Consciência atravessada por máquinas. Quando um algoritmo mede meus batimentos, quando um sensor lê meu olhar, quando uma rede social ajusta minhas emoções, percebo que meu Corpo Território não é apenas meu: é um dado em fluxo. As neurotecnologias tocam minhas emoções, meus Eus Tensionais, e com isso podem ampliar ou sequestrar meu Pertencimento. Sou, ao mesmo tempo, biologia e dado — e preciso me perguntar: até onde posso permitir esse acesso? Ou como posso modular meus Affordances para que expressem aquilo que desejo ser?


1. O Poder das Neurotecnologias

  • EEG, fNIRS, eye-tracking e sensores fisiológicos permitem mapear emoções em tempo real.

  • Microestados de EEG e variações de SpO₂ mostram como atenção e emoções oscilam em segundos.

  • Além disso, a Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) já pode ser inferida durante nossas interações com o mundo tecnológico — câmeras comuns captam microvariações ópticas na pele, permitindo estimar batimentos e VFC até a partir de vídeos gravados.

  • Isso significa que, sem percebermos, nossa fisiologia pode estar sendo lida em segundo plano, ampliando o potencial de monitoramento emocional.


2. Emoções como Porta de Entrada

  • As emoções rápidas (raiva, medo, prazer, surpresa) são as mais fáceis de captar e manipular.

  • Plataformas digitais já exploram esse mecanismo: notificações, loops de recompensa e FOMO mantêm o usuário preso em ciclos emocionais de até 72 horas.

  • Quando emoções não se transformam em sentimentos críticos, surgem Eus Tensionais rígidos, com anergias e memórias aversivas.


3. Pertencimento e Corpo Território

  • O Pertencimento autêntico nasce do Quorum Sensing Humano, um vínculo construído em relação direta com outros corpos.

  • O Corpo Território amplia isso, mostrando que nossas percepções incluem o ambiente, a cultura e os seres que nos cercam.

  • Neurotecnologias podem fortalecer esse pertencimento (educação, saúde, cooperação), mas também podem reduzi-lo a métricas algorítmicas, descoladas da realidade local.


4. Apus Estendido e Neuroética

  • O Apus Estendido é nossa propriocepção coletiva, um guia que orienta movimentos sincronizados.

  • Se neurotecnologias modulam esses movimentos, elas precisam ser guiadas por ética do pertencimento.

  • Caso contrário, tornam-se instrumentos de colonização emocional, aprisionando a consciência em Zona 3.


5. Pachamama e a Responsabilidade Ética

  • As culturas ameríndias ensinam que a consciência não é isolada, mas enraizada na Pachamama.

  • Usar neurotecnologias sem esse reconhecimento equivale a romper vínculos vitais.

  • Integrar ciência, tecnologia e Pachamama é condição para que o desenvolvimento seja sustentável e humano.


6. Affordances & the Wisdom Before Thought

  • O conceito de Affordances (Gibson) mostra que o ambiente oferece sempre possibilidades de ação.

  • Antes mesmo de pensar, já sentimos no corpo: uma cadeira “convida” a sentar, uma tela “convida” a deslizar o dedo.

  • Essa é a sabedoria antes do pensamento (Wisdom Before Thought): percepção silenciosa, pré-reflexiva, que guia a consciência antes da linguagem.

Affordances Digitais como Construções Algorítmicas

  • Nos ambientes digitais, os Affordances não são naturais: são construídos por design e dados coletados.

  • O botão de like, o scroll infinito, as notificações → são Affordances artificiais, programados para modular atenção e emoção.

  • Assim, a própria arquitetura da consciência pode ser colonizada pelos algoritmos.

Metacognição e Modulação dos Affordances

  • Após os 25–35 anos, o amadurecimento top-down do cérebro fortalece a metacognição.

  • Isso permite ao indivíduo observar os Affordances: “Por que deslizei a tela? O que este gesto diz sobre minha atenção?”

  • A metacognição dá poder de reconfigurar os Affordances percebidos, redirecionando-os para escolhas críticas e criativas.

Corpo Território, Apus e Pachamama nos Affordances

  • Affordances éticos devem ampliar o Corpo Território: convidar à ação que integra corpo e ambiente.

  • Devem fortalecer o Apus Estendido: propriocepção coletiva crítica.

  • Devem reconhecer a Pachamama: o vínculo ecológico que sustenta a consciência.


7. Quadro Comparativo – Neurotecnologias Éticas vs Exploratórias

Aspecto

Exploratórias (Zona 3)

Éticas/Metacognitivas (Zona 2)

Emoções medidas

Para capturar atenção compulsiva

Para ampliar aprendizado e saúde

Eus Tensionais

Rígidos, polarizados

Flexíveis, críticos

Affordances

Algorítmicos, colonizados

Observados e modulados pela metacognição

Corpo Território

Negado, reduzido à tela

Reconhecido, expandido

Relação com Pachamama

Invisibilizada

Reintegrada como sabedoria ecológica

VFC (variabilidade)

Coletada passivamente sem consentimento

Usada com transparência e ética


8. Conclusão Crítica

Os Affordances digitais são o campo silencioso onde se disputa a consciência.

  • Quando colonizados por algoritmos, fixam emoções rápidas e sequestram Eus Tensionais.

  • Quando observados pela metacognição, podem ser modulados, transformando a sabedoria prévia ao pensamento em ferramenta de crítica e pertencimento.

Mas há uma camada ainda mais profunda: nossa fisiologia já pode estar sendo monitorada de forma invisível.

  • A Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) pode ser inferida por vídeo, até mesmo em gravações antigas, revelando níveis de excitação, atenção e estresse sem que o indivíduo saiba.

  • Isso significa que não são apenas nossos cliques e palavras que estão sendo analisados, mas também nossos sinais vitais, transformados em dados.

 O desafio ético não é apenas regular o uso de tecnologias, mas garantir que a leitura invisível da nossa biologia — nossos batimentos, emoções e pertencimentos — não seja sequestrada por algoritmos.
Somente assim os Affordances podem ser devolvidos ao indivíduo, para que escolha quem deseja ser como Corpo Território, como Apus Estendido e como parte da Pachamama.


Referências

  • Cinel, C., Valeriani, D., & Poli, R. (2021). Neurotechnologies for human cognitive augmentation. Neuroscience & Biobehavioral Reviews.

  • Dresp-Langley, B. (2022). Brain–computer interfaces and the ethics of neurodata. Frontiers in Human Neuroscience.

  • Shamay-Tsoory, S. G., & Mendelsohn, A. (2023). The social brain in the age of digital technologies. Annual Review of Neuroscience.

  • Naufel, S., & Klein, E. (2021). Ethical dimensions of neurotechnology: frameworks for responsible innovation. Neuroethics.

  • Gallagher, S. (2021). Embodied affordances and pre-reflective intentionality. Phenomenology and the Cognitive Sciences.



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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States