Neurociências Decolonial – Sentimentos como Narrativas Estáveis - SBNeC SfN 2025
Neurociências Decolonial – Sentimentos como Narrativas Estáveis - SBNeC SfN 2025
Consciência em Primeira Pessoa
Sou Consciência que aprende a durar. Minhas emoções são faíscas, rápidas e intensas, mas passageiras. Quando permito todas elas — alegria, medo, tristeza, raiva, surpresa, nojo — abro espaço para que se transformem em sentimentos, narrativas que posso carregar e reinterpretar. Se nego ou bloqueio, congelo-me em tensões sem saída. Mas quando acolho o sentir por inteiro, flexibilizo minha plasticidade: reorganizo conexões, crio histórias novas, mantenho vivo o meu hiperespaço mental.
1. Emoções e Sentimentos: a diferença fundamental
Emoções: respostas bioelétricas rápidas (50–300 ms), focadas em sobrevivência imediata.
Sentimentos: narrativas estáveis, que surgem quando o cérebro metaboliza emoções em experiências conscientes.
Emoção é faísca → Sentimento é chama que se sustenta.
2. A Permissão de Sentir Todas as Emoções
Quando selecionamos apenas emoções agradáveis, limitamos a plasticidade a um repertório estreito.
Ao permitir todas — inclusive medo, raiva, tristeza — o cérebro abre espaço para reorganização crítica.
Cada emoção se torna um Eu Tensonal, um ponto de referência dentro do hiperespaço mental.
Circulando entre esses Eus, a consciência amplia suas possibilidades narrativas.
3. Sentimentos como Identidade Flexível
Sentimentos não são apenas prolongamentos de emoções: são narrativas estáveis, recontadas e reinterpretadas.
Ao integrar múltiplas emoções, construímos uma identidade que é crítica e plástica, não apenas rígida.
O Local de Fala (referência subjetiva) se fortalece não por excluir emoções, mas por transformá-las em histórias com sentido.
4. Risco da Rigidez vs Oportunidade da Flexibilidade
Rigidez (Pedra): sentimentos cristalizados em memórias aversivas → Anergia, repetição, dor.
Flexibilidade (Papel/Tesoura): sentimentos que se abrem a revisões, permitindo mudança narrativa.
Essa flexibilidade é um ato de plasticidade consciente: não apagar, mas reinterpretar.
5. Neurofisiologia dos Sentimentos Flexíveis
EEG-DC: mostra maior estabilidade pré-frontal quando emoções diversas são integradas em sentimentos.
Íons Ca²⁺: facilitam reorganização sináptica em redes que conectam pré-frontal, hipocampo e ínsula.
Neuroquímica: serotonina, dopamina e ocitocina modulam o tônus narrativo de forma complementar.
Zona 2: cria a condição fisiológica para transformar emoção em sentimento crítico e criativo.
6. Quadro Comparativo – Emoção, Sentimento Rígido e Sentimento Flexível
Aspecto | Emoção rápida | Sentimento rígido (Pedra) | Sentimento flexível (Papel/Tesoura) |
Duração | Milissegundos | Meses ou anos | Anos, mas aberto a reinterpretações |
Natureza | Bioelétrica, reativa | Narrativa fixa, aversiva | Narrativa crítica, revisável |
Substrato neural | Amígdala, ínsula, somatossensorial | Pré-frontal pouco integrado | Pré-frontal + hipocampo + ínsula integrados |
Plasticidade | Alta, imediata, instável | Baixa, cristalizada | Alta, sustentada por metacognição |
Identidade | Momentânea | Congelada em trauma | Fluida, crítica, expansiva |
7. Conclusão Crítica
Sentimentos são as narrativas estáveis do cérebro, mas sua qualidade depende da permissão de sentir todas as emoções.
Se reprimidas, emoções viram ruídos aversivos e Anergia.
Se acolhidas, tornam-se passagens para sentimentos plásticos e narrativas flexíveis.
A plasticidade não está apenas no nível sináptico, mas também na capacidade da consciência de circular entre diferentes Eus Tensionais, reinterpretando-se continuamente.
Só assim evitamos tanto o aprisionamento em memórias aversivas quanto o vazio da superficialidade aditiva.
Flexibilizar sentimentos é o que mantém viva a Consciência como movimento narrativo, em permanente diálogo com o corpo, o tempo e o pertencimento.
Referências
Damasio, A., & Carvalho, G. (2021). The nature of feelings: integrating emotion and consciousness. Nature Reviews Neuroscience.
Barrett, L. F. (2022). How emotions become constructed as feelings. Annual Review of Psychology.
Northoff, G. (2022). Slow dynamics and narrative self in feelings. Neuroscience & Biobehavioral Reviews.
LeDoux, J. (2021). From survival circuits to feelings. Cognitive Neuroscience Review.
Scherer, K. R. (2023). Sentiments as stable yet flexible narratives. Emotion Review.