A Recorrência Neural Redesenha o Espaço Visual no Cérebro
A Recorrência Neural Redesenha o Espaço Visual no Cérebro
Xie, S., Singer, J., Yilmaz, B., Kaiser, D., & Cichy, R. M. (2025).
Recurrence affects the geometry of visual representations across the ventral visual stream in the human brain.
PLoS Biology, 23(8), e3003354.
Consciência em Primeira Pessoa Brain Bee Ideas
Feche os olhos e imagine uma imagem que marcou sua infância — uma cor, um rosto, um horizonte.
Agora, abra-os lentamente e observe o que muda.
O que chamamos de “ver” não é apenas captar luz, mas reorganizar o corpo para receber o mundo.
Ver é tocar com o cérebro.
E esse toque não é linear: é recursivo, é um ir e vir entre sensação, memória e significado.
Na Consciência em Primeira Pessoa, a percepção é um gesto de pertencimento: o corpo se refaz no ato de ver.
O estudo de Xie et al. (2025) mostra com elegância científica o que os povos originários já intuíam poeticamente — o olhar é circular, não hierárquico.
O cérebro vê o mundo e se vê vendo o mundo, num circuito de Fruição contínua.

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Brain Bee Ideas
O Estudo
O trabalho de Xie et al. investigou como a recorrência neural — o retorno de informações entre áreas visuais — altera a geometria das representações no córtex visual ventral.
Utilizando técnicas de decodificação multivariada em EEG e fMRI, os autores demonstraram que a percepção visual não é um fluxo unidirecional da retina para o córtex, mas um ciclo de refinamento dinâmico.
Essas trocas recorrentes entre áreas inferiores e superiores reorganizam o espaço neural da visão: padrões de atividade se tornam mais distintos, precisos e semânticos com o passar do tempo.
Em termos simples, o cérebro “reconstrói” o que vê enquanto vê.
Esse processo transforma a percepção em um evento temporal, não apenas espacial — ver é um verbo, não um estado.
Apus — A Propriocepção Estendida
Na cosmovisão ameríndia que inspirou o conceito de Apus, o corpo não termina na pele: ele se estende para dentro e para fora, como uma montanha viva.
A Propriocepção Estendida é a capacidade de sentir-se nas formas e nas distâncias.
É o corpo percebendo o mundo como parte de si.
A recorrência neural descrita por Xie et al. (2025) é a expressão neurofisiológica desse fenômeno.
As áreas visuais não se limitam a “ver objetos”, mas integram posição, contexto e memória.
O olhar se torna um gesto proprioceptivo: o cérebro se move dentro do espaço que percebe.
É por isso que, diante de uma paisagem, sentimos o corpo expandir — o olhar cria território.
O espaço percebido é também um espaço vivido.
Fruição e Tempo Visual
Na Fruição, o tempo não é sequência, é permanência.
O olhar fruído não busca algo — ele habita.
O estudo de Xie e colegas mostra que as redes visuais mantêm atividade recorrente mesmo após o estímulo desaparecer, como se o cérebro recusasse o fim da experiência.
Essa persistência rítmica é o fundamento da arte, da contemplação e da espiritualidade: o prolongamento da percepção além do instante.
Ver não é captar — é deixar o visto ressoar.
A recorrência neural, portanto, é a base biológica do que chamo de tempo interno da consciência: uma arquitetura que não mede, mas sente o tempo.
É nela que nasce a memória afetiva — aquela que não se recorda apenas, mas reexperimenta.
Mente Damasiana e Corpo Território
Na Mente Damasiana, a visão é um processo encarnado: ver envolve o batimento cardíaco, o ritmo respiratório e a postura corporal.
O estudo de Xie et al. reforça essa integração ao mostrar que as representações visuais se refinam a partir de feedbacks interoceptivos e contextuais.
O cérebro, ao ver, se ajusta metabolicamente ao que percebe.
Cada forma observada reorganiza o tônus muscular, o fluxo sanguíneo, o campo de atenção.
Ver é, portanto, um ato de autorregulação existencial — uma maneira de manter-se vivo dentro do ambiente.
O Corpo Território é a expressão mais concreta dessa unidade: o espaço que vejo é também o espaço onde estou sendo.
A geometria neural da visão é, de fato, a geometria do ser.
Evidência e Implicações
Xie et al. (2025) demonstraram experimentalmente que:
A recorrência neural aumenta a separabilidade geométrica das representações visuais, permitindo reconhecimento mais preciso e contextualizado;
Essa recorrência ocorre em janelas temporais rápidas (100–300 ms), mostrando que a percepção já é predição;
Modelos de redes neurais recorrentes se aproximam melhor da organização cerebral real do que redes feedforward clássicas.
Esses resultados indicam que o cérebro não processa imagens — ele constrói mundos.
A cada volta do circuito, o visto se refaz em novas dimensões de sentido.
Uma Leitura Decolonial
A epistemologia ocidental da visão é hierárquica: há um observador, um objeto e uma distância neutra entre ambos.
A neurociência contemporânea — e especialmente este estudo — começa a romper esse modelo colonial do olhar.
Ao demonstrar que ver é um processo recursivo e encarnado, Xie et al. nos convidam a reconhecer que o olhar não é dominador, mas relacional.
A visão deixa de ser uma forma de controle e volta a ser uma forma de comunhão.
Assim, o Apus — como corpo que percebe em expansão — e a recorrência neural — como corpo que reflete sobre o que vê — se tornam faces de uma mesma sabedoria:
ver é participar.
EEG–fNIRS e o Espaço da Percepção
No contexto do SfN 2025, essa pesquisa é crucial para:
Estudos de percepção dinâmica e feedback visual com EEG-fNIRS simultâneo;
Modelos de atenção recursiva e estados de fruição perceptiva;
Explorações de conectomas espaço-temporais em arte, VR e cognição estética.
Ao medir recorrência neural, medimos também a profundidade do sentir.
O EEG registra o ritmo da luz; o fNIRS, o calor do sangue que ilumina o olhar.
Juntos, revelam o corpo vendo-se vivo.
Conclusão
O estudo de Xie et al. (2025) nos lembra que ver é um ato circular de consciência.
O olhar vai, retorna e se redesenha a cada instante — como um pulso entre o dentro e o fora.
A recorrência neural é, na verdade, o batimento cardíaco da percepção.
Quando o cérebro retorna ao que viu, ele não repete — ele aprofundiza.
Cada ciclo é um aprendizado, uma miniatura de eternidade.
Ver, então, é existir em movimento.
E talvez, nesse espelho da luz que se dobra sobre si mesma, encontremos a mais antiga forma de Fruição:
a contemplação do mundo como parte de nós.
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El Cerebro Colectivo: Hyperscanning y el Nacimiento de la Neurociencia Decolonial
The Collective Brain: Hyperscanning and the Birth of Decolonial Neuroscience
O Cérebro Coletivo: Hyperscanning e o Nascimento da Neurociência Decolonial
Antes del Lenguaje: Fruição y Pertenencia en el Cerebro Prelingüístico
Before Language: Fruição and Belonging in the Pre-Linguistic Brain
Antes da Palavra: Fruição e Pertencimento no Cérebro Pré-Linguístico
Hyperscanning y Pertenencia Colectiva: El Cerebro que Piensa con Otros
Hyperscanning and Collective Belonging: The Brain That Thinks with Others
Hyperscanning e Pertencimento Coletivo: O Cérebro que Pensa com Outros
Luz y Sangre: Acoplamiento Neurovascular y el Ritmo de la Atención
Light and Blood: Neurovascular Coupling and the Rhythm of Attention
Luz e Sangue: Acoplamento Neurovascular e o Ritmo da Atenção
Neurofeedback Multimodal: EEG–fNIRS y la Plasticidad del Gesto Mental
Multimodal Neurofeedback: EEG–fNIRS and the Plasticity of the Mental Gesture
Neurofeedback Multimodal: EEG–fNIRS e a Plasticidade do Gesto Mental
Audiovisual y Movimiento: Cómo el Cerebro Cambia de Tarea Mientras Camina
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Audiovisual e Movimento: Como o Cérebro Troca de Tarefa Enquanto Caminha
Hápticos Neuroadaptativos: Cuando el Tacto Aprende del Cerebro
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Haptics Neuroadaptativos: Quando o Toque Aprende com o Cérebro
La Recurrencia Neural Redibuja el Espacio Visual del Cerebro
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A Recorrência Neural Redesenha o Espaço Visual no Cérebro
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El Bajo, la Emoción y el EEG: Cuando la Música Mueve el Cuerpo Antes que la Mente
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