Jackson Cionek
27 Views

Nova Psicologia Pós-Republicana

Nova Psicologia Pós-Republicana

Nova Psicologia Pós-Republicana
Nova Psicologia Pós-Republicana

Bases Neurobiológicas e Filosóficas para uma Nova Psicologia Pós-Republicana: Lições das Críticas Indígenas e da Neurociência Relacional  

(Revisado e ampliado com insights de O Despertar de Tudo de David Graeber e David Wengrow)  


Introdução: A Dívida Oculta do Iluminismo ao Pensamento Indígena

O Iluminismo europeu, frequentemente celebrado como o berço de ideais modernos como liberdade e democracia, é geralmente retratado como uma revolução intelectual puramente endógena. No entanto, estudos recentes—notavelmente em O Despertar de Tudo (Graeber & Wengrow, 2021)—revelam como essas ideias foram profundamente moldadas por encontros com sociedades indígenas das Américas. Por meio de diálogos com líderes indígenas, pensadores europeus foram desafiados a reimaginar a organização social para além de hierarquias rígidas. Por exemplo, filósofos Wendat (Hurão) criticavam o materialismo e o autoritarismo europeus, enquanto modelos indígenas de governança participativa e estruturas sociais fluidas ofereciam alternativas tangíveis ao regime monárquico.  


Essa revisão histórica desmonta o mito do excepcionalismo intelectual ocidental e nos convida a repensar estruturas psicológicas ainda enraizadas em dualismos da era Iluminista. Neste ensaio, defendo uma psicologia pós-republicana que conecta avanços neurobiológicos (cognição incorporada, processamento preditivo, neurociência relacional) com insights filosóficos de sociedades que praticaram há séculos modos de existência descentralizados e relacionais.  


O Legado Republicano: Dualismo Cartesiano e o Mito da Autonomia  

A filosofia republicana clássica, de Rousseau a Kant, baseia-se em uma cisão cartesiana: mente vs. corpo, indivíduo vs. coletivo, razão vs. emoção. Esse arcabouço gerou uma psicologia do individualismo abstrato, em que o "eu" é um agente racional delimitado, navegando contratos sociais—uma visão espelhada na teoria política Iluminista. No entanto, como ilustram Graeber e Wengrow, muitas sociedades indígenas ameríndias operavam por meio de sistemas fluidos e não coercitivos, que rejeitavam hierarquias fixas e priorizavam o bem-estar coletivo sobre a autonomia individual.  


Modelos republicanos de psicologia—assim como suas contrapartes políticas—frequentemente patologizam a interdependência, enquadrando emoções, tradições e laços sociais como ameaças ao autogoverno racional. Isso perpetua uma falsa dicotomia entre "mentes autônomas" e "corpos desordenados", ignorando como a cognição e a identidade são constituídas pela relationalidade.  


Cognição Incorporada: O Continuum Mente-Corpo-Cultura 

A neurociência moderna desmonta o dualismo cartesiano. A cognição incorporada propõe que o pensamento emerge do engajamento sensório-motor com o mundo—não de um "eu racional" desencarnado. Por exemplo, a ínsula íntegra estados viscerais à tomada de decisão, enquanto neurônios-espelho sustentam a empatia por meio de simulação corporal. Da mesma forma, práticas indígenas como danças comunitárias, rituais e trabalho coletivo refletem uma compreensão da cognição como distribuída entre corpos e ecologias.  


O processamento preditivo radicaliza essa ideia: o cérebro não é um decodificador solitário da realidade, mas um *órgão relacional* que prevê o mundo por meio de diálogo contínuo com seu nicho social e ambiental. Isso se alinha com epistemologias indígenas, nas quais o "conhecimento" é cocriado pela participação dinâmica na comunidade e na terra—um contraste gritante com o ideal republicano do cidadão deliberativo e isolado.  


Neurociência Relacional: Rumo a uma Psicologia do Inter-ser  

Pesquisas de ponta em neurociência relacional revelam que a estrutura e a função cerebral são moldadas por experiências sociais. A rede de modo padrão (DMN), por exemplo, sustenta o pensamento autorreferencial, mas é atenuada durante atividades comunitárias, sugerindo que a "individualidade" diminui em estados de fluxo coletivo. Sistemas de oxitocina e serotonina, críticos para regulação emocional, são modulados por segurança social e reciprocidade—não por força de vontade individual.  


Essas descobertas ressoam com cosmologias indígenas que priorizam redes de parentesco e ajuda mútua em detrimento do individualismo. A Confederação Haudenosaunee (Iroquesa), modelo de democracia participativa admirado por pensadores iluministas, institucionalizou a interdependência por meio de governança baseada em clãs e construção de consenso. Da mesma forma, princípios neurobiológicos refutam a psique republicana, mostrando que o bem-estar depende de coerência relacional, não de autodomínio.  


Conclusão: Uma Psicologia Pós-Republicana para um Mundo Interconectado  

A obra de Graeber e Wengrow nos convida a enxergar o Iluminismo não como um triunfo europeu, mas como um diálogo intercultural—um momento em que críticas indígenas expuseram as limitações da governança hierárquica e das visões de mundo mecanicistas. Similarmente, uma psicologia pós-republicana deve rejeitar a ficção do "eu autônomo", integrando:  

1. Realismo incorporado: Cognição como processo ecológico e socialmente situado.  

2. Ética relacional: Bem-estar como contingente à reciprocidade comunitária.  

3. Referenciais pluralistas: Sistemas de conhecimento além do individualismo ocidental.  


Ao entrelaçar neurobiologia e filosofias indígenas, talvez possamos finalmente construir uma psicologia que honre nossa interdependência—uma ciência não de mentes isoladas, mas do *inter-ser*.  


Referências 

- Graeber, D., & Wengrow, D. (2021). O Despertar de Tudo: Uma Nova História da Humanidade. (Trad. Brasileira). Editora Record.  

- Clark, A. (2015). Surfando na Incerteza: Predição, Ação e a Mente Incorporada. (Trad. Livre). Oxford University Press.  

- Tognoli, E., & Kelso, J. A. S. (2014). O cérebro metastável. Neurônio, 81(1), 35-48.  

- Tallbear, K. (2015). Estar com e Falar como Fé: Uma Abordagem Feminista-Indígena para a Investigação. Revista de Prática em Pesquisa.  


Esta revisão centraliza as contribuições indígenas ao pensamento iluminista e fundamenta a psicologia pós-republicana em evidências neurobiológicas e antropológicas robustas.

 
#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States