Jackson Cionek
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Páscoa para Lembrar ou para Esquecer

Páscoa para Lembrar ou para Esquecer



Muitos dos feriados cristãos no Brasil – especialmente os ligados à Semana Santa e à Páscoa – se sobrepõem, por sincretismo, a ciclos rituais ancestrais dos povos originários das Américas. Esses ciclos eram, e ainda são, em várias comunidades, baseados nas mudanças naturais do tempo, no metabolismo da Terra, e nas relações entre vida, morte, fertilidade e pertencimento cósmico.


Aqui vão alguns exemplos e hipóteses sobre celebrações ameríndias que ocorriam ou ainda ocorrem nessa época do ano, por volta do equinócio de outono no hemisfério sul (cerca de 20 a 23 de março), que marca também o ciclo de transição entre luz e sombra — um tema profundamente simbólico em muitos povos:


1. Ciclo da Colheita e Preparação para o Tempo Seco (Regiões Tropicais e Subtropicais)

- Povos Tupi-Guarani, Pankararu, Fulni-ô, entre outros, realizavam rituais ligados ao fim das chuvas e início da seca (maio a setembro). Este período de março/abril marcava o início das colheitas principais: milho, mandioca e frutas.

- Rituais de gratidão à Terra e de ofertas para os espíritos da fartura e do renascimento cíclico ocorriam neste período, com danças, cânticos e refeições coletivas.


2. Ritos de Transição, Fogo e Purificação

- A transição entre estações era, em muitos povos, tempo de purificação, de queima de resíduos, de renovação dos corpos e do espaço coletivo.

- Povos como os Xavante e Maxakali realizam, até hoje, rituais com fogo, pintura corporal e jejum, que coincidem com esse período.

- Essa lógica de “morte simbólica e renascimento” está muito próxima do imaginário da Páscoa cristã.


3. Alinhamento com os Ciclos Lunares e a Fertilidade

- A lua cheia mais próxima do equinócio era vista como momento de potência para ritos femininos, fertilidade da terra e nascimento de animais.

- Povos como os Krahô, Mehinaku e Yawanawá têm rituais em que as mulheres mais velhas conduzem cantos ancestrais, muitas vezes de lamento, aprendizado e recomeço — com forte dimensão espiritual.


4. Festejos de Início de Ano Cosmológico (Andes e Amazônia)

- Para diversos povos dos Andes (ex: Quéchua e Aymara) e povos pan-amazônicos como os Huni Kuin e Ashaninka, este período marca a entrada do novo ciclo cósmico, ligado aos alinhamentos solares e lunares.

- As celebrações incluem plantio cerimonial, pinturas com jenipapo, uso de ayahuasca, e orações coletivas em forma de cantos.


5. O Sincretismo na Prática Atual

- O que vemos na Semana Santa — procissões, jejum, purificação, simbolismo da morte e ressurreição — absorveu elementos das práticas ancestrais, que já marcavam esse ciclo como tempo de introspecção, cura coletiva, silêncio e reverência à terra.

- Muitas das festas cristãs incorporaram ou encobriram festas de fertilidade e de pertencimento comunitário.


Fontes e Pesquisadores que abordam esse tema:

- Carlos Fausto (antropologia simbólica ameríndia)

- Lux Vidal (rituais de iniciação e cosmologias indígenas brasileiras)

- David Kopenawa e Bruce Albert (*A Queda do Céu*, cosmologia Yanomami)

- Alcida Rita Ramos, estudos sobre sincretismo e rituais em tempos coloniais

- Wendy F. Watson Wright (sobre cosmologia e calendário andino)

- Manuela Carneiro da Cunha, com foco nos saberes e ciclos dos povos originários



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Jackson Cionek

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